Por falta de transferências, pessoas estão morrendo em Mossoró/RN


Por César Santos - Jornal de Fato

A barreira no Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM) para impedir a entrada de pacientes encaminhados pelas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de Mossoró, é muito mais grave do que a denúncia feita pelo cidadão identificado com o nome de “Gutemberg Medeiros”, que viu morrer o pai e o avô porque eles não foram transferidos a tempo para a unidade de urgência/emergência.

Gutemberg narrou o seu sofrimento nas suas redes sociais. Disse que perdeu o pai e o avô no espaço de 16 dias, nas mesmas circunstâncias. Os dois ficaram aguardando horas e horas na UPA, mas acabaram morrendo porque a transferência não foi autorizada pelo Hospital Tarcísio Maia. A sua revolta em forma de desabafo está circulando nas redes sociais: “O Governo do Estado, secretário de Saúde e a direção do Hospital Tarcísio Maia têm as mãos sujas de morte.”

O jornal De Fato repercutiu a grave denúncia e, de imediato, recebeu novas denúncias e informações que são ainda mais graves. Uma delas afirma que o número de mortes nas UPAs, principalmente de pessoas idosas, aumentou assustadoramente desde a decisão da direção do Tarcísio Maia de dificultar o recebimento de pacientes que são encaminhados pelas Unidades de Pronto-Atendimento.

Um episódio, inclusive, chamou a atenção porque deixou um médico lotado na UPA do Belo Horizonte bastante indignado. O referido profissional se revoltou quando um médico do Tarcísio Maia mandou de volta para a UPA um paciente que estava com fratura exposta. Por telefone, o médico indignado determinou que o hospital recebesse o paciente, que precisava de atendimento urgente, sob pena de levar o caso para a polícia e pedir a prisão dos profissionais envolvidos.

Um médico que fez contato com a coluna (nome preservado) afirmou que cerca de 20 pessoas morreram nas UPAs de Mossoró nos últimos meses, porque não foram transferidas para o Tarcísio Maia ou porque não tinham as condições financeiras para pagar hospital privado. Esse mesmo médico conta que pacientes estão ficando internados nas UPAs por vários dias, e isso não pode porque essa é atribuição de unidades de urgência, que devem dispor de leitos hospitalares.

A razão de a direção do Tarcísio Maia dificultar a transferência de pacientes das UPAs, é uma forma de inibir o acúmulo de pacientes em macas nos corredores do hospital e, de certa forma, dizer à população que o HRTM está sendo bem administrado. Só que a estratégia é absurda porque o cidadão simples está pagando com a própria vida.

É revoltante. É inadmissível.

O Ministério Público Estadual (MPRN) tem a obrigação de se sentir provocado e abrir linha de investigação. Não cabe, nesse momento, esperar que as autoridades da saúde se sentem para discutir se transfere ou não pacientes. Existe denúncia, concreta, como a feita por Gutemberg Medeiros, que o pai e o avô morreram porque não foram transferidos para receber o atendimento necessário. Morreram à míngua, depois de horas e mais horas de espera.

Outro lado

A diretora do HRTM, Herbênia Ferreira, disse que o hospital não está dificultando a transferência de pacientes das UPAs para a unidade hospitalar. Ela classificou a denúncia como “inverdade” e enfatizou que o HRTM segue uma orientação.

“Com relação a essa questão que o Hospital Regional Tarcísio Maia está dificultando a transferência dos pacientes, isso é uma inverdade. Porque: hoje nós obedecemos um fluxo. Com a regulação que agente implementou na porta do hospital, o que é que acontecesse. Existe um fluxo. O paciente ao dar entrada nas UPAs ou em outro serviço de saúde da baixa e média complexidade ele é regulado. Entra-se em contato com o Hospital Tarcísio Maia, o hospital orienta estabilizar esse paciente até que a gente tenha condições de recebê-lo. Então, essa é a orientação hoje. Esse é o fluxo”, disse.

Já em relação ao caso citado pelo popular que se identificou com o nome de “Gutemberg Medeiros”, Herbênia Ferreira revelou que conversará com os clínicos para saber o que realmente houve e explicou o que tem acontecido, segundo ela.

“Com relação a esse caso, a gente inclusive vai conversar com os clínicos para saber realmente o que houve. Mas, o que tem acontecido é o seguinte: paciente, ao dar entrada na UPA, precisa estabilizar, precisa ter sua área vermelha e prestar a assistência nessa urgência ao paciente e estabilizar enquanto faz a regulação para o Tarcísio Maia. O que acontece é que muitas vezes nós estamos com o hospital superlotado e faltam ponto de oxigênio, leito adequado para receber esse paciente. Então, qual é a orientação? Que a UPA mantenha o paciente, fique monitorando seu paciente, estabilize o paciente e assim que o Hospital Tarcísio Maia tiver condições de receber esse paciente, que nós tivermos condições, o leito disponível e o ponto de oxigênio, que muitas vezes nós temos dificuldades por conta da superlotação, é que a gente regula e traz o paciente”.

Fonte: Mossoró Notícias

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