É falso que hospitais recebem R$18 mil por cada óbito registrado como covid

É falsa a informação compartilhada por vídeo no Facebook sobre hospitais receberem verba a cada morte pelo novo coronavírus

São falsas as afirmações feitas em um vídeo postado no Facebook pelo médico Édison Carmo, de Minas Gerais, dizendo que hospitais recebem R$ 18 mil para cada registro de óbito pelo novo coronavírus.

No vídeo, um homem não identificado mostra uma declaração de óbito de um morador do interior do Rio Grande do Sul. No documento, consta que ele tinha suspeita de covid-19. O autor do vídeo diz, mais de uma vez, que conversou com "o médico" que assinou a declaração e que ele teria confirmado que a informação foi incluída apenas para que o hospital pudesse receber o valor. Ao fazer a postagem, Carmo insinuou que isso estaria por trás do elevado número de óbitos no país. "Entendem agora o altíssimo número de mortes por covid-19?", questionou.

As informações não são verdadeiras porque a definição dos valores destinados pelo Ministério da Saúde para ações de enfrentamento à pandemia não toma como base o número de pacientes infectados ou mortos. A vítima em questão sequer foi atendida em um hospital e, sim, em uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Além disso, tudo indica que o autor do vídeo não teve qualquer contato com a profissional que assinou a declaração de óbito — uma médica mulher. A inclusão da suspeita no documento atendeu a uma recomendação de órgãos de saúde. 

Como verificamos?

A equipe do Comprova usou as informações que aparecem na declaração de óbito mostrada no vídeo para identificar a vítima: Henrique José Pena, de 81 anos. A morte ocorreu na cidade de Ipê, na Serra Gaúcha. Com essas informações, entramos em contato com a prefeitura do município, que enviou uma nota sobre o caso. A assessoria de imprensa também forneceu o contato de um sobrinho da vítima, com quem conversamos por telefone. Depois tentamos encontrar a médica que assina a declaração, Heloisa Joanette Dossin, identificada pelo número de sua inscrição profissional, que consta do documento. A prefeitura informou que ela trabalha para o município por meio do programa Mais Médicos, do governo federal, mas está em férias no momento. De acordo com o registro do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (CRM-RS), Heloisa é pediatra com endereço na cidade de Caxias do Sul, a 54 quilômetros de Ipê. Tentamos contato pelo telefone que aparece no registro, sem sucesso. A assessoria do município nos forneceu, então, o contato da Vigilância Epidemiológica, que esclareceu as circunstâncias da morte de Pena e as razões pelas quais foi incluída na declaração a suspeita de covid-19. Além disso, conversamos por telefone com um funcionário da Funerária Anziliero, de Ipê, para esclarecer se Pena havia sido enterrado sem velório, o que se confirmou.

Em seguida, buscamos mais informações sobre Édison do Carmo, autor da postagem por meio da qual o vídeo viralizou. Édison é médico cardiologista e mora em Patos de Minas, cidade no interior de Minas Gerais — a 1.500 quilômetros de Ipê. Conseguimos falar com ele por meio de um dos números de telefone que consta na base do Conselho Federal de Medicina. Também solicitamos esclarecimentos ao Ministério da Saúde sobre como funcionam os repasses federais para ações de enfrentamento à pandemia nos estados e municípios. O órgão se manifestou por nota. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 24 de junho de 2020. Verificação No vídeo, um homem, que não aparece na imagem, mostra a declaração de óbito de Henrique José Pena, de 81 anos, e diz que ele "infartou dormindo". Na sequência, chama a atenção para o bloco em que é indicada a causa mortis, no qual consta, dentre outros, "suspeita de covid-19". Segundo o autor do vídeo, em função disso, o paciente não pôde ser velado. "Aí a família tinha que ir na casa, colocar o cara no saco e ir direto pro cemitério sem ter velório, sem ter nada", diz. O homem afirma ter cobrado explicações do médico que assinou a declaração. Segundo ele, o profissional teria informado que os hospitais recebem R$ 18 mil a cada registro de óbito.

Com Informações do UOL

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