Marinha argentina não descarta explosão em submarino

Um submarino militar participa das buscas
Janaína Figueiredo,Correspondente - O Globo
BUENOS AIRES — Após mais um dia de incertezas, a Marinha argentina anunciou ontem a descoberta por navios americanos de uma “anomalia hidroacústica” a cerca de 50 km ao norte da zona de operações de buscas do submarino ARA San Juan na quarta-feira da semana passada, apenas três horas após a última comunicação entre a embarcação e a base naval. Perguntado sobre a possibilidade de que o ruído poderia indicar algum tipo de explosão, conforme rumores, o porta-voz da Armada argentina, Enrique Balbi, não descartou a possibilidade:
— Não tenho essa informação e não posso fazer conjecturas — disse, mostrando-se nervoso. — Estamos enviando vários barcos ao local onde foi detectado o ruído, que devem chegar esta noite (ontem). Temos de confirmar o indício através de vários meios como sensores, barcos e aviões.
Segundo informações do “La Nación”, há uma semana o capitão do submarino informou sobre um problema elétrico, que teria sido provocado por uma entrada de água quando o ARA San Juan estava na superfície recarregando as baterias. De acordo com as fontes ouvidas pelo jornal argentino, na mesma comunicação o capitão assegurou que a dificuldade tinha sido superada e que estava a caminho de Mar del Plata.
— Se surge uma falha, o sistema se conecta a outras baterias (são quatro, no total) — explicou o porta-voz mais cedo, minimizando o incidente. — O que ninguém sabe é se o problema foi, de fato, solucionado ou se, posteriormente, agravou-se ou surgiu uma nova dificuldade que não foi informada pelo capitão.
Entre familiares, a esperança se reduz a cada hora que passa. Ontem, muitos começaram a criticar publicamente as ações da Marinha e do governo de Mauricio Macri.
— Estamos satisfeitos com as operações de busca, mas deveriam ter começado muito antes — disse ao GLOBO Claudio Rodríguez, irmão de Hernán Rodríguez, um dos 44 tripulantes.
Mais de 12 países participam das buscas, numa área de 500 mil quilômetros quadrados. A maior expectativa está na equipe da Marinha americana, que detectou a anomalia ontem e enviou submarinos não tripulados — que seriam essenciais numa eventual operação de resgate. O presidente argentino ainda conversou por telefone com o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, sobre o envolvimento de militares do país na operação.
— A Argentina nos pediu ajuda sexta-feira passada e esta unidade de resgate é a única que os EUA possuem. A quantidade de equipamento dependia das informações sobre o submarino, e como não tínhamos nenhuma, trouxemos o máximo possível — disse ao site “Infobae” o porta-voz da Marinha americana, Kurt Schomberg.
Ao longo do dia, familiares falaram a canais de TV locais e, em alguns casos, não conseguiram esconder o desespero. Outros, como Fernanda Valacco, mulher de Cristian Ibanes, mostraram-se otimistas.
— Eles vão aparecer, tenho certeza absoluta. Sei que estão bem.
Para especialistas, é o início de uma fase crítica. O perito naval Antonio Mozzarelli, que presenciou a construção do ARA na Alemanha, em 1983, lembrou que depois de uma semana de buscas sem resultado, o cenário é “muito delicado”.
— Ainda não vejo risco de vida dos tripulantes, mas precisam encontrar o submarino o mais rápido possível — disse Mozzarelli ao GLOBO. — Existem mecanismos para renovar o oxigênio, e se eles estiverem funcionando os tripulantes poderiam aguentar bastante mais tempo. A dificuldade que vejo é que o submarino não está emitindo sons nem se comunicando. Não entendemos por que não estão fazendo nenhuma das duas coisas.
Mas há controvérsias sobre quanto tempo podem sobreviver os 44 tripulantes do ARA San Juan sem que o submarino venha à superfície. Para outros especialistas, como Fernando Morales, mais do que uma semana é difícil.
— É verdade que há coisas que podem ser feitas, mas não sabemos se eles têm todos os elementos para enfrentar esta situação, porque não sabemos o que está acontecendo dentro do submarino.
À Reuters, Morales explicou que se o submarino não submergiu até agora é porque “não tem a capacidade física para isso” ou os tripulantes estão impossibilitados.
Na Casa Rosada, a irritação do presidente Macri se misturava ao desespero de um governo que não consegue entender como se chegou a esta situação. Em reuniões com autoridades da Marinha, o chefe de Estado foi direto em suas perguntas e não obteve respostas claras. Em Buenos Aires especula-se até mesmo com uma futura renovação da cúpula militar, uma vez que a crise seja superada. A quantidade de pessoas a bordo do submarino, que teria capacidade para 38 tripulantes, também foi questionada:
— Eu estive várias vezes no ARA San Juan e uma vez fomos aos EUA com um grupo de 50 pessoas — respondeu Balbi.

Fonte: Extra

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